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O menino birrento do Palácio

O menino birrento do Palácio

Publiquei em maio de 2020 o artigo “Os mimados no poder”, descrevendo em 10 passos o que acontece quando eles estão lá.

Nos itens 7 e 8, apontei que o chefe mimado, incapaz de aceitar quem lhe chame à realidade e à moralidade quando delas se distancia, acaba cercado apenas de bajuladores e oportunistas, rumando ladeira abaixo em ações alopradas e indecentes.

Quem conserva alguma integridade, se não é afastado, mais cedo ou mais tarde se afasta para não compactuar com essas ações.

Nos últimos 14 meses, o governo Bolsonaro e sua rede extra-oficial de comunicação ilustraram repetidamente esse processo.

No lugar de ministros, comandantes e gestores técnicos, ou jornalistas independentes, ficaram capachos rasteiros, sob interesses escusos do pai da rachadinha e de empresários igualmente mimados.

Em maio de 2020, tomando o Centrão parlamentar como referência em matéria de escambo (o vulgo “toma lá, dá cá”), batizei de “Centrão militar” e “Centrão da comunicação” os demais pilares de apoio ao bolsonarismo.

Enquanto o “Centrão da comunicação” fatura verbas federais e tenta garantir a concessão de novos canais de TV bajulando o governo, o “Centrão militar” fatura o “teto-duplex” e usa o Ministério da Defesa e as Forças Armadas para fazer um “alerta” à CPI da Pandemia, comissão para a qual Bolsonaro diz: “Caguei”.

O presidente “cagão” foi eleito sete vezes por meio de urnas eletrônicas, mas, acuado ante a queda nas pesquisas, também ameaça impedir as eleições de 2022, se forem realizadas sem voto impresso – o que rendeu o seguinte comentário de Rodrigo Maia, antecessor de Arthur Lira no engavetamento de pedidos de impeachment:

“Bolsonaro é uma criança mimada que nunca ouviu um não na vida. Quando muitos nãos aparecem à frente, ele revela o menino birrento que vive em seu interior. E como todo garoto birrento, chama os amiguinhos mais fortes da rua para protegê-lo.

É um presidente com mentalidade infantil, cercado por aduladores que só reforçam os instintos infantis de quem não tem maturidade para conviver numa democracia.”

O diagnóstico está finalmente correto, embora o “Botafogo” da Odebrecht tenha mimado Bolsonaro, porque, assim como ocorre com Lira, a sabotagem do combate à corrupção os uniu para além de qualquer boquinha.

O amiguinho mais forte da rua de Maia agora é o ex-presidiário Lula, com quem o ex-presidente da Câmara negocia aliança para 2022; enquanto o da rua de Bolsonaro é o ministro signatário de notinha de repúdio à CPI, Braga Netto, que teve aumento de R$ 22,8 mil de remuneração (alta de 58%), totalizando R$ 62 mil por mês.

Ao impedimento do processo eleitoral e a qualquer outra hipótese golpista, coube então aos ministros do STF Luís Roberto Barroso (“eleição vai haver, eu garanto”) e Alexandre de Moraes (“não serão admitidos atos contra a Democracia”) anteciparem o “não” que a ala podre das Forças Armadas sonega ao menino birrento do Palácio do Planalto, quando ele ameaça novos crimes de responsabilidade ou comuns.

Seu advogado, Frederick Wassef, que fazia o papel de babá de Fabrício Queiroz quando o ex-assessor de Flávio foi preso, ainda tentou intimidar a jornalista que revelou áudios de Andréa Siqueira Valle sobre a rachadinha de Bolsonaro, o Jair, quando era deputado federal. “Lá na China você desapareceria e não iriam nem encontrar seu corpo”, escreveu pelo WhatsApp o hospedeiro de operador.

Considerando-se que o chefe está há dois anos e meio sem refutar indícios de peculato em gabinetes da família e há várias semanas sem desmentir os irmãos Miranda, que o alertaram sobre indícios de corrupção na Saúde enquanto o país atingia meio milhão de mortos, os comportamentos de Wassef, Braga Netto e comandantes de Exército, Marinha e Aeronáutica são sintomáticos da espiral de alopragem e indecência do bolsonarismo.

Cercado de bajuladores e oportunistas, alguns dos quais com porte legal de brinquedos de fogo, Bolsonaro vai batendo um recorde histórico de pitis contra todos aqueles que apitam quando ele e seus coleguinhas põem a mão na bola dentro de campo para fazer o gol.

O menino birrento não aceita que a bola e o campo, como o dinheiro pago aos assessores, não são dele.

São do povo brasileiro, atualmente carente de adultos na sala.

* E de moto, claro.

** Os artigos de FMB publicados ao longo dos dois anos anteriores a este site estão aqui.

10 de julho, 2021 - por Felipe Moura Brasil

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